Jair Bolsonaro: início do governo é marcado por confusões, desmentidos e medidas polêmicas

 

Os primeiros setenta dias do (des)governo de Jair Messias Bolsonaro, sobretudo as mais recentes falas e atitudes de s. exª., comprovam aquilo que boa parte da população eleitora brasileira, aquela medianamente informada, com um mínimo de bom senso e preocupação com o país, sabia: o capitão não tem a menor condição de presidir o Brasil. Ou, como resume, com simplicidade e precisão, frase contida no editorial do último número da revista Veja: “Trata-se de uma dolorosa evidência de que Bolsonaro não faz ideia do tamanho, da dignidade e do decoro do cargo que ocupa”.

Podem os bolsonaristas embevecidos, com a visão e a mente obliteradas pela paixão, rosnar e repetir que a publicação perdeu a respeitabilidade e que cambaleia à beira da falência, mas não há como negar que o editorialista foi de uma exatidão irretocável.

O capitão Messias, ainda que egresso da Academia das Agulhas Negras, nunca exibiu currículo ou estampa para vestir a faixa presidencial. E nesse quesito perde até para Luiz Inácio, que chegou de Pernambuco na carroceria de um caminhão e não teve grande chance de lustrar os bancos escolares. Mas supunha-se que tivesse adquirido algum conteúdo quando envergou a farda ou sentou praça na Câmara dos Deputados. Pura ilusão. Ganhou a eleição sem fazer campanha, sem mostrar programa de governo, sem dar entrevistas e sem participar de debates públicos, graças àquele ainda não suficientemente explicado incidente de Juiz de Fora. E subiu a rampa do Planalto. Para semear asneiras pelas redes sociais.

Pouco nos importa se ele desfila pelos jardins do Alvorada de shorts, de calça de agasalho, de camiseta falsificada do Palmeiras e de chinelos de dedo. Gosto não se discute e se a Michelle está de acordo, paciência. Mas chamar de mentiroso um ministro de Estado que foi companheiro de primeira hora, quando quem estava mentindo era ele próprio; eleger como ministra-padrão dona Damares, aquela do menino veste azul e menina rosa; creditar aos militares a democracia e a liberdade existentes no Brasil; e – absurdo dos absurdos – postar no Twitter imagens obscenas colhidas durante o Carnaval, alegando ter a postagem fins pedagógicos, constituem posturas não só reprováveis como degradantes. Um vexame internacional.

Tirante essas presepadas, que vêm desde quando Messias nem havia ganho o pleito e assumido o poder, o governo ainda nem começou a governar. As mazelas nacionais continuam e se agravam, o futuro da economia é incerto, a saúde pública agoniza, a violência e a falta de segurança crescem. A reforma da previdência, tida como a joia da coroa, está em marcha lenta, carece de credibilidade e destina-se ao fracasso, sobretudo pela ausência de liderança e pelas infaustas intervenções presidenciais.

A preocupação é geral. Os palacianos, especialmente os generais que compõem o governo e que, volta e meia, são obrigados a explicar ou desmentir o chefe; o empresariado, os políticos, a comunidade nacional e até os eleitores que elegeram Bolsonaro estão assustados, com medo do porvir.

A cada dia é um novo desarranjo verbal, ninguém segura a língua e o raciocínio enviesado do homem. Até quando pretende ser engraçado é um desastre. Aquela do ministério igualitário em gênero: dos vinte ministros, dezoito são homens e duas mulheres, “mas cada uma delas equivale (sic) por dez…” – foi de doer.

Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum e Zacarias, os trapalhões originais da TV e do cinema, faziam rir; as trapalhadas do atual ocupante do trono presidencial provocam sobressaltos e, quando não fazem chorar, envergonham o país.

P.S. Dois atiradores deixaram pelo menos sete mortos e vários feridos e depois se mataram em uma escola de Suzano (SP). Qual era mesmo o motivo para armar a população, eminentes capitão-presidente e ministro Moro? Ah, sim, para oferecer mais segurança às pessoas…

 

(Publicado originalmente no blog do Zé Beto em 14/3/19).