Hoje, 8 de março, é o Dia Internacional da Mulher. Mais do que motivo de festas ou homenagens, a data lembra acontecimentos que marcaram a história desde o século XIX, pelo menos. Relegadas a um papel secundário nas sociedades patriarcais, as mulheres resistiram, se organizaram, lutaram contra preconceitos e obtiveram conquistas significativas. As estatísticas, porém, mostram que ainda há muito a ser feito. No mundo “moderno”, as mulheres formam o setor da população mais atingido pela violência e pelas desigualdades. Para comemorar o seu dia, é preciso, antes, refletir sobre a importância do papel feminino em acontecimentos que mudaram o mundo.

O massacre de 1857

Uma das explicações mais conhecidas para o surgimento do Dia Internacional da Mulher faz referência a uma greve ocorrida em Nova Iorque, no ano de 1857, quando 129 operárias morreram asfixiadas numa fábrica de tecidos. O local, segundo essa versão, foi incendiado criminosamente, numa resposta violenta dos patrões à insubordinação de suas empregadas. Em 1910, durante a Segunda Conferência da Mulher, na Alemanha, uma dirigente do Partido Social-Democrata, Clara Zetkin, propôs que aquele fato histórico fosse reconhecido como marco da luta feminista contra as desigualdades e a injustiça.

 

Condições desumanas: entre o final do século XIX e início do século XX, trabalhadores de fábricas nos EUA e na Europa eram submetidos a um regime de exploração brutal. Mulheres e crianças sofriam as piores consequências desse regime violento. O quadro de precariedade impulsionou rebeliões e greves, fortemente reprimidas pelos patrões

 

Existem dúvidas sobre a greve de 1857, da forma como ela é tradicionalmente narrada. Em 1966, o protesto das tecelãs norte-americanas ganhou destaque num panfleto da Federação Internacional Democrática das Mulheres, com sede em Berlim, na antiga República Democrática Alemã. Mas essa publicação contém detalhes confusos, provavelmente extraídos dos registros de outras duas greves, também ocorridas em Nova Iorque. Uma delas, de costureiras, começou em 22 de novembro de 1919 e se estendeu até 15 de fevereiro de 1920. A outra aconteceu em 1911, e deixou como saldo 134 pessoas mortas – mulheres, em sua maioria – num incêndio provocado pela precariedade das instalações de uma fábrica. A imagem de operárias que saltavam do oitavo andar de um prédio em chamas parece ter inspirado a versão da greve de 1857 (leia mais, aqui, sobre esses acontecimentos).

Direto ao voto e à participação na política

A ideia de libertação da mulher se intensificou entre o final do século XIX e o início do século XX. Nesse período, grupos de mulheres independentes, de classe média e alta, promoveram campanhas pelo direito a votar. Eram as “sufragistas”. Esse movimento se solidificou na Inglaterra, principalmente após a fundação da National Union of Women’s Suffrage Societies, em 1897. Na Rússia de 1917, as mulheres passaram a comemorar o seu dia em 23 de fevereiro – correspondente, no calendário ocidental, a 8 de março. A data tem como inspiração um protesto de tecelãs e costureiras que tomou conta das ruas de Petrogrado naquele ano, e foi o estopim da primeira fase da Revolução Russa, conhecida depois como “Revolução de Fevereiro”.

 

Direito a participar: as sufragistas, mulheres que buscavam integrar-se ao processo político em seus países, desempenharam papel importante. Elas queriam votar. Na Inglaterra, o movimento formou uma rede nacional que organizava atos de protesto. Na Rússia, em 1917, tecelãs e costureiras tomaram conta das ruas de Petrogrado, numa greve que foi o estopim da Revolução

 

Nas ruas e na política: o movimento feminista se expandiu na segunda metade do século XX. Sob os efeitos da Guerra Fria, a sociedade passou a questionar os valores da tradição ocidental. Grandes manifestações ocorreram em várias partes do mundo. Esse fenômeno se mantém. Em 2014, milhares de pessoas se juntaram numa praça de Manila, nas Filipinas, para formar o símbolo da mulher no 8 de Março

 

Em Chicago (1968) e Berkeley (1969), nos EUA, a celebração do Dia Internacional da Mulher foi retomada, até se afirmar em 1970. O mundo vivia, então, sob os efeitos da Guerra Fria, da contestação à sociedade de consumo e da revisão dos dogmas da burocracia nos países do Leste Europeu. A luta das mulheres por igualdade de direitos e contra a opressão a que eram tradicionalmente submetidas adquiriu sentido universal, e passou a abranger temas como as guerras, as questões trabalhistas, o aborto e as mudanças na estrutura familiar.

 

No Brasil, a resistência

A evolução dos movimentos feministas no Brasil acompanhou as transformações que ocorreram no mundo, em especial durante do século XX. Essa tendência se fortaleceu na década de 1970, quando as mulheres, de forma organizada, assumiram papel de destaque nos debates sobre a anistia, que foi conquistada em 1979. O movimento, em seguida, se tornou mais arrojado, cobrando respostas para situações que a sociedade da época encarava com estranheza e medo. As mulheres exerceram pressões pela definição de políticas públicas, muitas delas incorporadas pela Constituição de 1988 e por leis que vieram depois, num período de efervescência política, proliferação de jornais alternativos e realização de conferências e comemorações do 8 de Março.

A igualdade no trabalho e a superação da violência que faz das mulheres as vítimas preferenciais ainda são objetivos distantes no Brasil. Alguns números bastam para revelar os traços perversos de uma realidade que precisa de mudanças urgentes. Eles podem ser conferidos no quadro abaixo.

 

Leia mais sobre o Dia Internacional da Mulher:

Na seção Notícias: 8 de Março terá protestos e manifestações em vários países

Na seção Artigos: Sem homenagem, de Mário Montanha Teixeira Filho


Os dados desta matéria foram extraídos das seguintes fontes:
8 de Março. A história do Dia Internacional da Mulher (cartilha publicada pela Coordenação Nacional dos Trabalhadores da Justiça)
O Dia da Mulher nasceu das mulheres socialistas (Vito Gianotti, do Núcleo Piratininga de Comunicação)