Num texto publicado no blog do Zé Beto e reproduzido na seção Palavra Livre (clique aqui), Célio Heitor Guimarães projeta um mundo diferente após a pandemia de coronavírus e analisa a obra do filósofo holandês Robert Happé. Confira a íntegra na sequência.

 


A vida, segundo Robert Happé

por Célio Heitor Guimarães

 

Nestes dias de preocupação, tristeza e incerteza, lembrei-me de Robert Happé. Talvez os amáveis leitores nunca tenham ouvido falar dele. Muita gente não ouviu. Já me referi a ele aqui neste espaço, mas não custa repetir. Em apertada síntese, eu poderia dizer-lhes que Robert Happé é um filósofo holandês que tem se dedicado a descobrir o significado da vida.

Quem somos nós? De onde viemos? O que estamos fazendo aqui? Por que a vida é assim? São perguntas que a humanidade faz desde sempre, sem encontrar respostas. Pois Robert Happé acha que as encontrou e tem andado pelo mundo divulgando-as.

Ele nasceu no final da II Guerra Mundial. Tido como órfão, passou a ser criado por uma família. Um dia, um homem apareceu em sua frente e lhe disse: “Eu sou o seu pai”. Juntos, encontram a mãe de Robert em um hospital psiquiátrico. Tentam recomeçar a vida em Amsterdã, mas a mulher adoece e morre de câncer. Aos 16 anos, o jovem Robert põe uma mochila nas costas e parte para descobrir o mundo e seus mistérios. Começa a estudar psicologia, mas é tempo de servir o Exército. Só que ele não quer aprender a matar pessoas. É preso por desobediência e passa a lavar latrinas e trabalhar na cozinha. Quando o Exército consegue se livrar do soldado fracassado, ele gira o mundo sem dinheiro, de carona. Chega à Índia, ao Nepal, ao Tibete, a Taiwan e ao Camboja. Depois, interna-se na floresta, onde permanece por três anos, alimentando-se (física e mentalmente) da natureza. Ali garante ter tido acesso a Akasha, que seria a grande biblioteca do universo, onde estariam arquivados todos os conhecimentos.

Happé tem certeza de que somos muito mais do que sabemos. Que a vida é uma jornada, na qual nós é que devemos descobrir quem somos. E que, com a chegada da chamada Era de Aquário, as pessoas começaram a ganham consciência e a sair das caixas, onde se encontravam como ratos, para enfrentar a desonestidade e a corrupção do sistema dominante no planeta: “O sistema passou do dogma religioso para o dogma econômico” – garante.

Vai além e afirma que nossos governantes e orientadores apenas fingem ser nossos amigos, mas não nos dão o que é bom para nós, não nos falam dos nossos valores e qualidade, sequer sabem que somos seres criadores. E que aqui viemos e aqui estamos para aprender e evoluir. Por isso, grande parte das crianças (sobretudo as atuais) não gosta das escolas, porque sentem que alguma coisa está errada nelas:

– No modelo atual, somos tratados como números e ensinados a copiar e repetir. Fazemos provas o tempo todo, como robôs. E a manipulação tira a identidade das pessoas.

Outra ilusão, segundo Robert Happé, é a absurda importância que se dá ao dinheiro, misturando-o ao poder e à felicidade. “Logo, quando o sistema atual entrar em colapso [já está entrando, como se sabe], as pessoas que têm apenas dinheiro, ficarão sem nada” – destaca e justifica: “Porque o verdadeiro poder é o amor e o ser humano é uma só família”.

Aí, Robert vai ao pomo da questão: “Não estamos no mundo que merecemos. Foi nossa própria consciência que nos trouxe aqui. Mas este mundo está prestes a se dividir e os sinais estão aí: uma parte permanecerá na terceira dimensão; a outra evoluirá para níveis superiores de luz e amor. E o Brasil é a grande esperança. Há no país muita conexão com os sentimentos, muita luz e muito cristal que atrai mais luz. E as crianças que estão chegando vêm para os ensinar. Prestem atenção nelas”.

Antes mesmo de conhecer Robert Happé e saber de suas conclusões, eu já estava de acordo com ele. Sempre achei que muitos de nós nascemos em um mundo errado. Pouco temos a ver com isso que aí está ou com isso que tudo ficou. Mas já que aconteceu, resta-nos lutar. Se não nos é dado (ainda) mudar de mundo, procuremos mudar este mundo. Da forma que pudermos, modestamente, mas com firmeza, sinceridade e até teimosia. Um dia, quem sabe…? Lembram daquela andorinha que tentava apagar o fogo da floresta com a água que conseguia transportar no seu bico? Era ingênua? Quixotesca? Não. Ela apenas fazia a sua parte.

E as crianças? Tenho lhes falado delas.

A pandemia que cobre atualmente o mundo talvez seja um dos sinais dos quais fala Robert Happé. Um meio – triste e doloroso – para modificar o mundo e o comportamento dos seres que aqui habitam. Ela vai passar – há de passar –, mas, depois dela, o mundo com certeza não será o mesmo.

 

(Publicado originalmente no blog do Zé Beto de 2/4/20)

 


Célio Heitor Guimarães é jornalista e consultor jurídico aposentado.