Memória ameaçada: redução do espaço onde funciona a Biblioteca da Presidência da República poderá trazer prejuízos à preservação de livros e documentos de importância histórica

 

O Conselho Regional de Biblioteconomia da 1ª Região (Distrito Federal, Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) divulgou nota de repúdio à diminuição do espaço onde está instalada a Biblioteca da Presidência da República. A medida foi anunciada pelo Governo Federal. Metade do prédio atual será ocupada por assessores do programa Pátria Voluntária, coordenado por Michele Bolsonaro. Porta-vozes do Planalto afirmam que o acervo de livros e documentos não será reduzido. Mesmo assim, o órgão de representação de classe diz que haverá prejuízos. Com a reforma, áreas de acesso ao público serão fechadas, e a conservação do material depositado poderá ser comprometida.

Confira, abaixo, a nota do CRB-1.

 


Nota sobre a redução da Biblioteca da Presidência

 

O Conselho Regional de Biblioteconomia da 1ª Região vem a público se manifestar contrário à redução do espaço da Biblioteca da Presidência da República.

Sem se preocupar com essa instituição centenária, responsável pela memória de todos os presidentes do nosso país, com um acervo atualizadíssimo de mais de 33 mil volumes, decidiram reduzir o espaço pela metade, deixando o acervo fechado e eliminando todos os espaços de convivência, estudo e leitura que estavam acessíveis para toda a população. O espaço usurpado será reformado para abrigar os assessores do Programa Pátria Voluntária, da primeira dama [Michele Bolsonaro], que antes ocupavam um gabinete recém reformado no Ministério da Cidadania, que custou mais de 300 mil reais de recursos públicos. Não se sabe ainda o valor dos gastos para abrigar esses assessores do programa […] no Anexo I do Palácio do Planalto, mas o prejuízo para a memória do país, já se sabe, será alto.

As bibliotecas presidenciais em todos os países atuam como entidades que visam a preservar a memória e o legado do tempo de um presidente em exercício. Estão abertas ao público e disponibilizam os registros de um governo a pesquisadores, historiadores e a qualquer pessoa interessada em saber como aquele governo funcionou, independente de qualquer questão partidária ou ideológica. São muito mais do que livros e papel. Servem como repositórios de preservação e disponibilização dos documentos, registros, coleções e outros materiais históricos de todos os presidentes,  bem como da produção documental dos servidores e órgãos da própria Presidência. A Biblioteca da Presidência da República do Brasil protege e documenta registros governamentais e históricos, discursos e fotos oficiais dos ex-presidentes brasileiros, e garante que o acesso público a esses documentos seja o maior possível.

O Conselho, em sua busca por proteger a sociedade de maus serviços, entende que só há democracia se houver garantia de um sistema onde o direito de acesso à informação seja para todos.